Monólogo "Sonho Literário"
Ilustração: Fernando Mena Meus sonhos são como terríveis pesadelos literários. Tenho comigo um texto corrosivo, expressão das camadas mais obscuras da perversão humana. Lembro-me do dia que brotara e de sua semeadura: caminhava eu por um vale gélido, e sentia medo de estar sozinho entre criaturas desconhecidas, sem alma, desprovidas de bondade, desejosas de meu sangue que pulsava intimidado por aquela estranha situação. Afirmo que não senti a presença de nenhum ser vivo naquele instante, e descrevo que as árvores eram numerosas, secas, vazias. Então, ouvi gemidos sofridos de almas perturbadas, gritos, risos de feiticeiras. Não consegui continuar meu percurso, meu corpo estava paralisado, pensei na morte, pensei nos poetas da noite: marginalizados, boêmios, necrófagos, embriagados, pensei em Sir Lord Byron, Edgar Allan Poe. Ouvi então - um que dizia: Poetas, amanhã no meu cadáver Minha tripa cortai mais sonorosa e cantai nela os amores da vida esperançosa. Era o jovem Álvares de Azev...